Esse texto é sobre uma época um pouco distante de hoje. mas foi o início da minha percepção como ser humano. De quando descobri uma nova Juliana com muitas complexidades e talvez muito mais difícil de entender do que antes, mas que começou a me dar muito orgulho. E por mais despreparada e precisando de evolução que eu esteja hoje em dia, me vejo uns 10 degraus acima de antes.
Eu precisei partir, mesmo que por um período curto para conseguir encontrar algo que eu havia perdido quando criança: minha vontade de viver. Eu tinha uma força contida e ofuscada por uma escuridão enorme que estava alimentando, mesmo que involuntariamente, todos os dias.
Eu sou impulsiva, explosiva e totalmente sem paciência. E por ser detentora de tais características é que eu “fugi”.
Fugi porque sentia esse impulso de agir, uma necessidade de fazer algo no agora por não saber esperar o tempo das coisas acontecerem. E foi aí que eu explodi, mas explodi colorido em borboletas, flores e arco-íris. E foi a melhor decisão que já tomei na minha vida, a de sair sem rumo.
E fui…
Fui para um lugar desconhecido por mim. Fui com uma desculpa: fazer um curso. Porém, como eu disse, acabou sendo uma desculpa para que eu saísse do meu casulo e pudesse liberar toda a minha dor do jeito que melhor sei fazer, sozinha.
Sem ter família e amigos por perto eu poderia ser quem eu era, poderia ajudar alguém se eu quisesse ou esnobar. Poderia fumar e beber caso sentisse vontade ou poderia acordar cedo e correr pela avenida. Eu estava sozinha num lugar desconhecido e foi a melhor sensação do mundo.
Estive livre aqueles dois meses, sem rótulos da pessoa que eu era e sem o peso de quem eu deveria me tornar dali pra frente.
“Você precisa ser forte pelos outros, você tem que ter mais responsabilidades a partir de agora” – pessoas que eu mal conhecia viviam repetindo.
“Você agora é o exemplo da sua família” – meu parentes diziam.
Mas perai, como eu poderia ser qualquer coisa para qualquer pessoa se eu estava quebrada? Eu não podia errar na frente de quem eu conhecia, então estar ali, rodeada de estranhos em um lugar desconhecido, foi salvador.
Houve quem me julgou por sair assim, da noite pro dia, pois tinham medo que eu fizesse alguma “loucura”. E pra falar bem a verdade, estar tão só me fez muito feliz naquele momento em particular. Eu não chorei em nenhum momento, não fiquei trancada dentro de casa pensando na vida. Eu ri. E aproveitei a vida e a oportunidade que aquele lugar me ofereceu.
Apenas num momento eu relembrei tudo que eu era e que me aconteceu, quando contei para uma amiga que fiz naquela cidade sobre mim. E foi tão bom falar com uma pessoa desconhecida, que me trouxe uma sensação boa comigo e pude melhorar.
Melhorei porque fui imprudente, irresponsável, impulsiva e impaciente. Esse foi meu jeito de saber que ainda estava viva. Poderia até esperar o tempo passar, mas ele não me levantaria da cama tão cedo. Eu tive que quebrar minha rotina, meus protocolos e fazer algo que não estava em nenhum dos meus planos. Só assim pude entrar em contato com as coisas lindas que vivi, inclusive dentro de mim.
Claro, na época eu era privilegiada e pude sair sem olhar para trás. Hoje, depois do falecimento do meu pai a situação se mostrou bem oposta, mas é um texto para uma outra hora.
E mesmo que eu nunca mais encontre todas as peças que se quebraram dentro de mim, eu vou atrás de preenchê-las de maneiras diferentes, coloridas e tão bonitas quanto as anteriores. Porque todo espaço vazio está ali esperando para ser preenchido. Basta saber se vamos ocupar com luz ou sombras.