Eu estudei teatro em São Paulo durante quase cinco anos. Entrei no Macunaíma com um sonho e talvez por pensar que sonhos são perfeitos e que nada nunca dá errado, cheguei num deslumbramento só. Encontrei pessoas tão diferentes e foi tão bom.
Me deparei com situações que na época achava tudo lindo e maravilhoso, pensamentos de uma menina que ainda cursava o ensino médio na cidadezinha do interior e que nunca havia pisado em outra cidade sozinha. Aliás, precisava da avó no começo para levá-la até a porta do teatro, com medo de se perder.
Comecei o módulo Básico com toda alegria e diversão que ele pode proporcionar. Eram muitas brincadeiras, amizades e risadas.
Passamos, alguns, para o PA1 e por lá ainda era tudo muito perfeito, como deveria ser.
Depois vieram os PA’s 2a/b, 3a/b, 4a/b e 5. A partir daí o aprendizado foi se concretizando.
O perfeito foi se mostrando vulnerável. Corações foram se unindo. Mudanças aconteceram na vida de todos. Alguns passando por perrengues que só “o povo de teatro” conseguia ajudar. Outros saindo de casa para seguir novos rumos. E, ainda, muitos descobrindo sua verdadeira essência.
Nesse período eu também passei por mil transformações, gostei do azul, depois do rosa, fui preferir o preto, o verde, voltei pro azul e hoje sou colorida!
Talvez isso tenha assustado alguns e esses não entendam. Talvez aparente uma mudança brusca, mas tudo aconteceu tão naturalmente.
Embora tenha sido o mínimo, aprendi muito com esses anos de teatro. As experiências que minha turma e eu passamos ao longo do tempo foram privilégios que a maioria não tem.
Na hora doeu muito, mas hoje me sinto mais preparada pro mundão, por conta de tudo que aconteceu. Tiveram momentos em que eu quase perdi a cabeça e foram esses instantes que me fizeram mais forte. Porque nessas horas é que os amigos e o sonho falam mais alto e mesmo não sendo perfeito como idealizei, é o que no fim do dia compensa.
Fazer teatro não é simples, o ator é realmente um atleta do coração e precisa exercitá-lo todos os dias, a todo momento.
Só que exercitar o coração é uma tarefa única para cada um de nós, talvez a mais difícil e por isso a mais prazerosa.
Lembro como se fosse ontem tudo que vivi nesses quase cinco anos e tenho certeza de que se não fosse todos os amores, todas as brigas, decepções, professores, todas as minhas personagens (afinal, algumas me fizeram lidar com minha vaidade), todas as perdas e ganhos, eu não a pessoa que cada dia tenho mais orgulho em me tornar.