Será que sabemos viver os dias calmos? Ou acostumamos demais ao caos, que qualquer sinal de tranquilidade, nos voltamos para a destruição?
Me pergunto onde foi que me tornei adicta ao sofrimento. Se nasci dessa forma e apenas é algo inerente a minha personalidade ou se após uma certa quantidade de choros derramados eu me afeiçoei a prática?
Por tantos anos eu rezei por dias calmos, para que as águas do meu rio simplesmente fluíssem, sem obstáculos pelo caminho. E sinto que neste momento, minhas águas correm tranquilamente. Elas seguem o seu curso, mas ao invés de me voltar para a deliciosa sensação de flutuar em águas mansas, ocupo minha mente com o que ainda me falta.
Preocupo-me com dias ainda melhores e esqueço de observar os bons dias que me cercam.
Quero saber da chegada dessa água doce em que me encontro com a água salgada que ela irá desaguar. Vislumbro esse momento e sofro por isso. Sofro por ele não acontecer hoje. Agora. Eu quero, eu preciso disso.
Enquanto vou percorrendo de uma forma segura e relaxante por um rio que contém paisagens tão lindas ao redor. Vez ou outra as observo, até aproveito o momento. Mas inevitavelmente, me volto para a preocupação.
Quando vou encontrar o mar? Será que existe mesmo esse encontro? E se não houver? Não posso viver num mundo onde não seja possível acontecer essa entrega.
E sofro. E dói.
Esqueci como que relaxa. Como que aproveita a parte boa por completo.
Para quê tanta pressão, se há tanta beleza para viver agora? Depois, quando esse momento passar, afinal, tudo se renova, posso me ver nostálgica, orando por dias como os que estou vivendo, mas que não soube aproveitar porque inventei uma preocupação para preencher a calmaria.
Quando os problemas eram concretos, foi natural me descabelar e não prestar atenção no “lado bom”, mas agora, o problema é no campo da esperança. Ou creio que o rio me levará na direção do mar ou me preocupo que esse dia não chegará nunca. Mas, preciso mesmo dessa aflição? Ainda mais quando o meu entorno está tão bonito e florido?
Porque eu não consigo soltar essa carga e viver dias sossegados? Porque focar tanto naquilo que pesa, naquilo que causa dor?
Eu posso aproveitar meus dias tranquilos sem caos, sem tormentas. E posso aproveitar hoje. Agora. Esses dias estão aqui, passando…